Páginas

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

The Invent To Learn Guide to 3D Printing in the Classroom: Recipes for Success


David Thornburg, Norma Thornburg, Sara Armstrong (2014). The Invent To Learn Guide to 3D Printing in the Classroom: Recipes for Success. CMK Press.

Encontrarmo-nos sem saber o que fazer com uma impressora 3D chegada à sala de aula é, suspeito, um problema que durante muito tempo continuará a ser incomum nas escolas. E ainda bem que assim é. Se há algo que as recentes experiências de melhoria das competências tecnológicas em Portugal conseguidas através do dilúvio de equipamentos nas escolas nos ensinaram é que se o ter acesso aos meios é condição essencial, o não ter estratégias e objectivos concretos e adequados às realidades locais se traduz numa enxurrada de meios digitais de rápida obsolescência e uso limitado aos mais elementares potenciais. É o paradoxo das tecnologias. Sem ovos não há omoletes, mas sem frigideiras também não. E se algo falhou nos projectos PTE/Magalhães foi o desiquilíbrio do build it and they will come quando quem veio não sabia em grande parte muito bem o que fazer com tanta coisa nova. Projectos de abordagem ao estímulo das tecnologias na aprendizagem que sejam excessivamente uniformizadas e monolíticas não parecem ser as mais eficazes nem as que permitem resultados mais interessantes.

Este livro mostra um outro caminho possível. Não é uma obra complexa, cheia de especulações sobre o brilhante futuro da manufactura aditiva ou abordagens técnicas às suas diferentes vertentes tecnológicas. É o que é. Um guia, quase um livro de receitas que estrutura ideias muito concretas para tirar partido das impressoras 3D na sala de aula com o necessário enquadramento pedagógico. São projectos simples, que requerem poucos conhecimentos de modelação mas que integram saberes de diferentes áreas. O foco está centrado nas TIC e CTEM, com muitas actividades de concepção e impressão em 3D de objectos como jogos de lógica, módulos para pavimentações, elementos para construção de sólidos ou engrenagens funcionais. Já o lado mais artístico fica-se pela modelação de um templo grego (daqueles projectos que me deixou logo a pensar "mas bolas, isto faço regularmente com os meus alunos") e algumas sugestões finais.

Receitas simples, procedimentais e de objectivos enquadrados nas áreas curriculares americanas, mas suspeito que muito fácil de adaptar às nossas. Sugerem algum software curioso, como o MeshMixer ou o KnotPlot, que desconheciam, e integram muito bem o desenho vectorial 2D em Inkscape com a extrusão em 3D feita no OpenScad e melhorada no Meshlab. Isto é outro ponto de interesse, mostrando diferentes técnicas de trabalho. Seria mais simples centrar-se no Sketchup ou outra ferramenta, em vez de sugerir esta variedade. Quanto ao foco nas CTEM, é suavizado por uma visão conceptual abrangente. Os autores não compartimentalizma os saberes e conteúdos curriculares, mas mostram como diferentes conhecimentos interligados são necessários para criar, num processo que reforça aprendizagens recorrendo a conhecimentos adquiridos e à experiência prática de resolução de problemas. Ou, como referem de forma muito sintética, "Design is where the mathematical reasoning, artistic sensibility, and engineering processes come to the fore.". E, ponto fundamental tão óbvio que me ia passando despercebido, mostra como é possível às crianças utilizar esta tecnologia.

Chegar à sala de aula e ver lá uma impressora 3D não é um problema com que nos deparemos a curto, ou sequer a médio prazo. Caso isso aconteça, livros como este dão ideias sobre o que fazer. Pessoalmente, eu sei precisamente o que fazer com crianças do ensino básico e impressoras 3D. Ter uma na sala é só o passinho que falta ao ensinar-lhes a modelar em 3D.

Sem comentários:

Enviar um comentário