É o pormenor mais divertido de dinamizar workshops para uma audiência internacional: poder utilizar o bom humor inerente à língua inglesa, terminando com um class dismissed ou can I go have my coffee now? O desafio foi participar no evento eTwinning PDW (workshops de desenvolvimento profissional) Coding and Robotics: The Future Is Now. Organizado numa parceria entre Portugal, Estónia e Noruega, trouxe à cidade de Braga cento e trinta professores provenientes de vinte países europeus. Em comum têm o pertencer à rede eTwinning, um dos grandes casos de sucesso de promoção da integração europeia, rede que tem reunido milhares de alunos pela Europa fora em parcerias transfronteiriças. Suportada pela European Schoolnet/Comissão Europeia, a rede eTwinning é um dos grandes projectos europeus no domínio da educação e interconexão entre países, não se esgotando nas fronteiras da União Europeia.
Dada a temática do evento, foi-nos pedida a dinamização de workshops sobre impressão 3D em parceria com elementos da Estónia. Não nos ficámos apenas por isso. Durante todo o evento uma impressora Beethefirst+ cedida pela Beeverycreative esteve em demonstração num espaço de exposição partilhado com robótica educativa.
A imprimir durante o evento, uma pequena lembrança alusiva ao encontro eTwinning de Braga. Não deu para todos, mas também não sobrou nenhuma...
Os workshops foram missão impossível. Uma hora e meia para falar de impressão 3D, explorar o seu potencial educacional, e iniciar os participantes à modelação 3D era manifestamente insuficiente. Fica o registo: se tiver uma próxima oportunidade, dividir em dois workshops complementares. It was... intense, disse-me uma das participantes, com uma expressão que traía intensidade. A percepção com que fiquei, da generalidade de quem sobreviveu ao workshop, foi de contentamento e interesse despertado pela impressão 3D num nível superior ao do simples deslumbre com a tecnologia. Se isto se verificar para a maioria dos participantes, cumpri os objectivos do evento.
Gostei da reacção do professor norueguês que depois do workshop me deu um abraço e disse job well done. Ou da professora austríaca que me grelhou com perguntas sobre Sketchup e outras vertentes do 3D, que quando ao mostrar-lhe a sobreposição de pontos de vista fotográficos na mesh do 123D Catch comentei what would Picasso do with this... "Precisely what I was thinking", disse.
A estrutura seguiu uma lógica progressiva. Primeiro, mostrar o que está dentro de uma impressora, como funciona, as bases da tecnologia, o software de controle/slicing. Depois, reflectir sobre o seu potencial educativo, falando das ideias vindas das experiências, e mostrar exemplos práticos de como se está a utilizar esta tecnologia na minha prática lectiva. É um elemento importante, ir além de ideias vagas e teóricas, mostrando o que realmente se faz. Há ainda outro momento de reflexão sobre o porquê desta vertente pedagógica, onde tento deixar expresso que se queremos que esta tecnologia realmente seja bem sucedida, temos de esquecer o deslumbre com a impressora e focalizar nos objectivos pedagógicos. Ou, colocando de forma mais coloquial, não interessa o para que serve a impressão 3D, mas sim o para que nos serve, enquanto professores, nos nossos contextos específicos.
De facto, chego a desencorajar activamente o investimento se este lado, para mim fulcral, não estiver estruturado. Creio que como professores temos o dever de ir além do mero deslumbre, do ok, o que é que se imprime? vamos à net descarregar qualquer coisa, aquilo que tanto ouço em eventos e fablabs. O verdadeiro potencial desta tecnologia sente-se quando colocamos nas mãos dos nossos alunos a modelação 3D. A partir daí, deixamos de proporcionar uma mera experiência educativa, fornecendo-lhes ferramentas cognitivas e criativas que permitem o desenvolvimento de competências nas artes e áreas STEM.
Para isso, é preciso aprender a modelar em 3D, algo pouco comum entre professores. Para este evento escolhi o Tinkercad como ferramenta, por não requerer instalação de software, pela simplicidade e estanquicidade dos ficheiros STL que produz. Recaiu aqui aquela que para mim foi a grande falha do workshop, a falta de tempo para os participantes fazerem mais do que um exercício prático muito liminar e reduzido. Espero que pelo menos a percepção da simplicidade e a faísca do 3D tenham ficado.
O workshop foi desenvolvido a duas mãos, com o estónio Argo Llves, que partilhou com os participantes a sua experiência com professores no domínio da impressão 3D com prusas, bem como nos introduziu ao 3D Creationist, uma das raras apps de modelação 3D para Android.
Let's open it up and have a look inside, shall we? I'll try to explain the wibbly wobbly bits. Not the timey wimey ones. 3D printing only works in three spatial dimensions. Não havia whovianos na audiência, infelizmente. Se defendo que na utilização de impressoras 3D em contexto pedagógico aqueles que preferem o lado da concepção, do design e da criação têm de optar por soluções plug and play, não deixa de ser importante aprender e descobrir o que está dentro das impressoras. Isso faz-se com proximidade, com um olhem, vejam, toquem (mas não no extrusor, que neste momento já dava para fazer uma pizza com o calor) e questionem.
A qualidade, estética e fiabilidade da Beethefirst+ cativaram os participantes. É impossível não sentir uma ponta de orgulho ao mostrar este excelente exemplo de tecnologia portuguesa a um público internacional, com alguns já habituados a Prusas ou a Makerbots. Estes ficaram surpreendidos com a falta de necessidade que tenho em calibrar a Beethefirst (a que está a imprimir aqui ao meu lado na sala do servidor da escola não é calibrada desde novembro, e quem acompanha regularmente este blog sabe que não tem tido muito descanso) ou a facilidade com o que o Beesoft permite importar um modelo e começar a imprimir. Foi divertida a reacção do operador de imagem da equipe de reportagem enviada por Bruxelas para registar o evento, que não se cansava de filmar a bee a trabalhar.
A participação neste evento não se resumiu à impressão 3D. Ainda passei por alguns workshops interessantes. O evento em si foi intenso, com muitas actividades a decorrer em pouco tempo, e o encontro com pessoas que conheço das andanças digitais. É sempre um prazer falar IRL.
Não posso deixar de agradecer à coordenação do NSS eTwinning português, co-organizadora deste PDW e de onde partiu mais um desafio, que esperamos ter correspondido. Como habitual, o apoio da BEEVERYCREATIVE foi fundamental para o sucesso deste desafio, com a cedência da Beethefirst+ e filamento solicitada pela organização do encontro.
Agora... descansar um pouco, e voltar ao trabalho. É na sala de aula que nascem as ideias e metodologias que permitem corresponder a estes desafios. E tenho também de começar a preparar outros desafios, enquanto se ultimam alguns projectos.
Well done, professor Artur!
ResponderEliminarUm belo testemunho cujo entusiasmo contagia... Vamos a isto!