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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Crescer na Maker Faire Lisbon


No passado fim de semana, o espaço do Pavilhão do Conhecimento Ciência Viva voltou a encher-se com mais de cento e cinquenta projectos de tecnologia e criatividade digital. Foi a terceira Maker Faire Lisbon, em que o projecto As TIC em 3D do Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro voltou a marcar presença. Este ano, a mostrar o quanto tem crescido, algo que tem sido possível graças ao feedback positivo das participações neste tipo de eventos, dentro ou fora do mundo da educação. Mais do que mostrar o que fazemos, queremos partilhar ideias e experiências, aprender com outros projectos inspiradores, que nos mostram novas metodologias e vertentes de intervenção.

Mostrar ao grande público o que tem sido possível fazer em sala de aula regular com impressão 3D é muito importante. Pessoalmente, não concebo melhor forma de valorizar a escola do que esta. Podemos participar em iniciativas institucionais, mas o que de facto mostra às pessoas que a escola está a evoluir e a atrever-se a novas experiências é a sua presença em eventos completamente fora do âmbito da educação. Algo que esteve em evidência nesta Maker Faire, onde a presença de projectos de escolas foi muito significativa. Junto da nossa escola básica estavam as escolas secundárias D. Dinos (Lisboa), Emídio Navarro (Almada), Augusto Cabrita (Barreiro) e é bem provável que me tenha esquecido de outras, representadas pelos seus clubes de robótica. A ANPRI trouxe outros projectos de escolas à Faire através do seu espaço, e mais no meio da Faire o projecto O Robot Ajuda do excepcional Paulo Torcato deslumbrava os vistantes. O AE S. Gonçalo de Torres Vedras também marcou presença neste evento. A Maker Faire torna-se assim mais um espaço onde os projectos educativos se podem encontrar e partilhar experiências entre pares.

Sinto como preocupante a ideia que se instalou de que a escola é um local fossilizado, avesso à tecnologia. É a sensação que trago do contacto com os visitantes da Faire, boa parte dos quais questiona-nos se somos uma empresa, se desenvolvemos actividades em workshops ou vendemos produtos educacionais. Não, refiro, as TIC em 3D representam uma escola básica pública, e são um de muitos exemplos de apostas pedagógicas na inovação. Este ano, com tantos clubes de robótica em evidência, foi mais fácil sublinhar essa ideia.

Não resisto: ao salientar o crescimento da presença de escolas neste evento, fora do espaço educativo mas com um grande impacto cultural, a presidente da ANPRI recordou-me que no primeiro ano da Maker Faire lisboeta havia apenas dois projectos de escolas presentes, as TIC em 3D e os carros solares do Vítor Palminha. Curiosamente, dois projectos tecnológicos que nasceram na sala de aula de Educação Visual e Tecnológica. A presença da ANPRI na edição de 2015 ajudou à disseminação deste evento, com os projectos que no ano passado estavam no seu espaço a regressar este ano, como participação de escolas. Este crescimento e progressiva aposta na visibilidade do que se faz no domínio da inovação pedagógica com recurso às tecnologias faz-me perguntar se não estará na hora de equacionar uma variante educativa da Maker Faire.


Aproveitámos o espaço para mostrar alguns dos projectos desenvolvidos no âmbito das TIC em 3D. O destaque vai para a impressão 3D na sala de aula, actividade que tanto quanto sabemos somos dos poucos (senão os únicos) a desenvolver de forma integrada no currículo da disciplina de TIC. Mostrámos também algumas das moléculas concebidas no projecto Moléculas na Palma da Mão, os drones Code2Fly (que não demonstrámos, estes aparelhos voadores dão-se mal em zonas ventosas e preferimos não arriscar), e as actividades no âmbito da Programação 1CEB, com destaque para a nossa versão do jogo Cody & Roby.


Outro destaque foi a estreia na Maker Faire dos robots Anprino, o kit de robótica de baixo custo com arduino e impressão 3D que estamos a desenvolver com Luís Dourado, professor do AE Augusto Cabrita, e Fernanda Ledesma, presidente da ANPRI. A primeira variante do Anprino deu os primeiros passos no evento de encerramento da iniciativa Programação 1CEB, e para a Maker Faire preparámos o estruturalmente menos complexo carro. Tínhamos peças suficientes para dois veículos, que ficaram prontos para mostra e funcionamento.


Cá estão eles, no espaço da ANPRI. Foram montados durante o evento, e o Luís Dourado teve tempo para os programar em duas variantes. Os anprinos andaram! Como co-criador, diga-se que é muito gratificante ver estes robozinhos em movimento. Com este e outros projectos, bem como pela influência que tem tido no estímulo à inovação tecnológica na educação, a ANPRI voltou a ganhar a distinção de Maker of Merit atribuído pela organização. Orgulho-me de ter contribuído um pouquinho para isso.


A Maker Faire é um espaço por excelência para ter ideias e aprender coisas novas. Afirmo sempre que nós, TIC em 3D, somos pequeninos no meio de gigantes. Há que aproveitar o evento para aprendizagem e inspiração. Estar responsável por um espaço diminui as oportunidades de frequentar workshops ou investigar a fundo os projectos, mas não deixamos de visitar os restantes projectos. Pelo foco nas artes, educação e 3D, salientamos alguns. Como este Moyupi, que recria em 3D desenhos de crianças e os transforma em brinquedos personalizados. Projecto intrigante, que inspirou uma das representantes da associação de pais do nosso agrupamento, que nos visitou, a lançar um desafio directo às TIC em 3D. Quando estiver pronto, revelamos.


Tenho um carinho especial pelo projecto Arte_Transformer. Partilhamos a visão da tecnologia ao serviço da expressão artística, e adoro as suas iniciativas.


Já que falamos de arte e tecnologia, também saliento O Robot Ajuda no Museu, projecto de robótica do Paulo Torcato que mistura informática, história de arte e artes visuais. Um excelente exemplo de trabalho interdisciplinar.


A Maker Faire é também um espaço privilegiado para desfrutar de doses maciças de tecnoluxúria. Do Hack Algarve, uma reprap com um extrusor capaz de misturar três cores, possibilitando impressão multi-cores. Não percebo porque é que lhe chamam RGB Steel, uma vez que nas misturas subtractivas se usam o Cyan, Magenta e Amarelo... mas tendo em conta a espectacularidade do projecto, estão mais do que desculpados.


Por entre os muitos robots presentes no evento, apaixonei-me por estes torsos andróides da InMoov. Apanhei este em modo do androids dream na garagem do Pavilhão do Conhecimento. Pouco depois, já montado na Faire, disse-me bom dia. Será que me reconheceu?



Debaixo desta estrutura de sanidade duvidosa mas que se aguentou muito bem estava o espaço FabLabs, onde diversos FabLabs portugueses mostraram os seus projectos. O local certo para me cruzar com o dinâmico Lab Aberto, de Torres Vedras, com o qual gostaria de aprofundar o envolvimento.


Devo confessar que os stands dedicados à impressão 3D me desiludem pela sua monotonia. Deslumbram pela tecnologia, mas as peças que mostram são... monótonas. Reina a impressão de modelos descarregados de repositórios online. É interessante e útil, mas se queremos que esta tecnologia ganhe asas creio que temos de esquecer o fascínio com a máquina e investir em potenciar o que podemos fazer com esta tecnologia. É por isso que as impressoras 3D das TIC em 3D/Fab@rts têm como regra imprimir sempre objectos criados pelos alunos e professores. O nosso objectivo é estimular as competências de modelação (com as de percepção visual e expressão artística que lhes estão associadas), indo além do deslumbre. Algo que não vejo em muitos dos espaços que divulgam a impressão 3D. Ou, como colocou de forma magistral uma das minhas alunas, que esteve no nosso espaço, professor, há aqui muitas impressoras 3D, mas ninguém explica o que é que é mais interessante, que é a modelação!


Poderia salientar muitos outros projectos fabulosos na Faire, mas termino com este modelo impresso em 3D para o videoclip Wide Open dos Chemical Brothers. Um trabalho absolutamente awesome de impressão 3D!


De regresso ao espaço das TIC em 3D. Aproveitámos o tempo para ir imprimindo os projectos dos alunos de segundo semestre, e conseguimos entregar um no evento à sua criadora. O modelo mostra algumas das condicionantes da impressora. Refira-se que a Beethefirst estava a imprimir ao ar livre, em condições que lhe são adversas. O vento que se fazia sentir poderia prejudicar a impressão. Estava um pouco apreensivo. Sou muito cuidadoso com as nossas impressoras. Na BEEVERYCREATIVE observaram que não tinham testado as impressoras nestas condições, mas que à partida o pior que poderia acontecer seria ter warping nas peças. Algo que não aconteceu, mesmo levando com rajadas de vento que ameaçavam fazer levantar voo as peças na exposição. Só ao ser exposta ao sol é que a Bee se queixou, notando-se o sobreaquecimento na qualidade de impressão. Aí optei por mantê-la desligada, para minimizar a possibilidade de avarias. Hoje já a testei no gabinete de trabalho, e imprime normalmente.

Estas condicionantes propiciaram um dos momentos mais divertidos da Faire. Domingo à tarde, com a impressora a falhar na impressão, abri-a junto com a minha aluna para descarregar/carregar filamento. Equanto seguíamos os passos da manutenção da impressora, reparámos que estávamos rodeados de visitantes que nos contemplavam de olhar fascinado. Eles estão à espera de algo fantástico, não estão, I...? comentei em voz baixa. Pois, stor, já viu que quando há problemas é que todos ficam a ver... mas não se apercebem que está com problemas, acham que está tudo bem!

A fiabilidade e resistência destas impressoras é notável. Um dia conto-vos a história daquela vez que cederam uma Beethefirst + para um evento, e a impressora esteve uma noite inteira deitada dentro do beepack, até eu chegar no dia seguinte para montar o espaço e apanhar um susto quando vi a posição da impressora. Ai o extrusor! Ai o alinhamento do braço da mesa de impressão! Ai... nada, que bastou verificar a calibração para perceber que estava a funcionar na perfeição.



Um dos objectivos que tínhamos para esta Faire era demonstrar o Code2Fly, estímulo à aprendizagem de programação com Tynker e drones. As condições climatéricas não permitiram arriscar, mas no segundo dia do evento não resisti a colocar o nosso RedRanger nas mãos dos alunos que estavam connosco.


Esperem lá. Alunos, disse? Então mas não tinha uma política assumida de não trazer alunos para os eventos, uma vez que as nossas actividades não fazem parte de um clube com um núcleo específico, não temos forma de assegurar transportes e não estão no nível etário dos alunos que habitualmente estão presentes nos espaços dos clubes de robótica? Esta foi uma das apostas ganhas desta edição da Maker Faire. O incentivo partiu da E-Tech Portugal 2016, onde referiram que a não presença de alunos a representar as TIC em 3D era algo a corrigir. Aproveitei este evento para arriscar, convidando directamente alguns alunos a estarem presentes. O resultado foi excelente! Quem, melhor do que eles, para explicar o que fazem? Foi muito bom sentir que deixava de ser preciso. Explicavam, interagiam, mostravam o entusiasmo. Sem preparação prévia, de forma espontânea.

Tão bom quanto isto era ver o ar fascinando com que vinham ter connosco depois da visita à Faire. A maior parte dos alunos convidados não passou tempo nenhum no espaço das TIC em 3D... chegavam, acompanhados das famílias. Dizia-lhes para primeiro visitarem a Faire, e depois, se tivessem tempo, ficarem um pouco no espaço a interagir com os visitantes. Invariavelmente apareciam duas ou três horas depois, a pedir muitas desculpas porque tinham que se ir embora, com aquele brilhozinho nos olho que denota o quanto gostaram da Faire.


Foi mais uma edição intensa e recompensadora da Maker Faire Lisbon. Neste ano as TIC em 3D deram um enorme salto. Reforçaram laços e parcerias. Tivemos muitas visitas que permitem aferir que este projecto está a ter um impacto que ultrapassa o âmbito da escola em que trabalha. O trabalho desenvolvido tem reconhecimento que vem dos sítios mais inesperados, bem como o carinho de muitos. Deixou de ser one man show, com o apoio e presença dos alunos e suas famílias, e ajuda directa da coordenadora do Centro de Recursos Poeta José Fanha, que se estreou nas lides como maker. Foi o ano em que senti que estamos a ter impacto na comunidade. Aliás, se me permitirem a pontinha de orgulho, nas comunidades. Quer nas de impressão 3D, quer dos professores inovadores, quer na comunidade educativa em que estamos inseridos. São estímulos para continuar, e melhorar.

Termino com agradecimentos. São a pequena forma que tenho de reconhecer todos os apoios e ajuda. Começo por quem? São tantos... e em pé de igualdade. Talvez pela direcção do Agrupamento, que me dá carta branca e condições para estes projectos fora da caixa. A todos os amigos, parceiros, colegas e conhecidos que me visitaram para dar um abraço e divulgar o projecto. À professora Jacqueline Duarte, que se estreou como maker em nome das Bibliotecas Escolares do Agrupamento, à Sara Veludo, que esteve sempre presente nos dois dias do evento. À Fernanda Ledesma e à ANPRI, pelos desafios, apoio e ajuda, sublinhando que juntos aprendemos melhor, que é a colaborar  e partilhar que se vai mais longe. À Associação de Pais da EB23 Venda do Pinheiro, belíssima surpresa a vossa visita (e desafio, mas acho que ainda não discutiram isso...). Aos encarregados de educação dos alunos convidados, que se prestaram a passar as tardes de sábado e domingo num fim de semana que só convidava à praia a trazer os seus educandos à Maker Faire. À BEEVERYCREATIVE, a começar pelos desafios do Francisco Mendes, ao pessoal de desenvolvimento e marketing que faz questão de vir ter connosco, e às representantes que estavam no espaço da BEE, sempre disponíveis para ajudar. Um dia conto a história daquele professor distraído que pensou que tinha perdido uma das protecções da caixa da BEETHEFIRST, foi imediatamente ajudado pelas representantes, e no dia seguinte foi muito contrito explicar-lhes que tinha encontrado a protecção desaparecida... em casa, ao pé dos livros.  Estes pequenos pormenores contam muito!

O agradecimento mais especial vai para os alunos que estiveram connosco no espaço. Mesmo àqueles que passaram o tempo todo a explorar a Faire. Esse era um dos objectivos, e planta sementes para projectos futuros. Tivemos alunos que insistiram em estar connosco nos dois dias. Wow! Este professor aprendeu uma grande lição.

E agora, o que se segue? A curto prazo, as nossas BEETHEFIRST ao serviço da educação entram em acção em contexto de formação interna no Agrupamento, no XVI Encontro das TIC na Educação do CCEMS em Leiria, e no Festival Sci-Fi Lx no Instituto Superior Técnico. Setembro arrancará com o encontro sobre diferenciação pedagógica do CFAERC. Quanto à Maker Faire Lisbon, não planeio voltar a candidatar as TIC em 3D. Não por falta de vontade, mas pela necessidade de evolução. Estamos a crescer, e o desafio Fab@rts, bem como o futuro clube de robótica AEVP_Lab, são os próximos passos. Se regressarmos à Maker Faire, será com o makerspace na Biblioteca Escolar, que esperamos ser mais um projecto a desbravar terreno na inovação educacional.

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