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quinta-feira, 28 de maio de 2020

Smartphone: Integrar ou Proibir


Ironias. Dos últimos eventos onde estive antes do país fechar para combater a pandemia, foi numa talk onde o jornalista Daniel Catalão partilhou com uma audiência de professores as suas dúvidas e experiências em relação ao digital na educação, especialmente no que toca ao potencial dos dispositivos móveis. Claro que, quando chegou aqui, a audiência reagiu com a habitual descrença dos professores face a um dispositivo que é visto como uma distração.


Registei estes slides, porque de facto creio que apresentavam excelentes ideias de debate para a questão dos telemóveis na sala de aula. O banir, de facto, não resulta, porque o telemóvel se tornou uma extensão do nosso corpo. E incorporar, especialmente como ferramenta criativa, é possível, e parte do trabalho que desenvolvemos nas TIC em 3D passa precisamente por demonstrar isso, procurando estratégias, atividades e metodologias.

Claro que na hora da discussão, muitas foram as vozes presentes que se insurgiram contra esta inovação excessiva, referindo as questões do costume. O telemóvel distrai, os miúdos andam agarrados à tecnologia (a ironia de ouvir isto numa plateia cheia de adultos de telemóvel à mão de semear), estamos demasiado dependentes dos ecrãs.

Poucas semanas depois, de certeza que todos os docentes ai presentes têm nas tecnologias a única linha de contacto com os seus alunos. E, certamente, porque nas primeiras semanas da pandemia percebemos que em Portugal o fosso digital ainda é grande, que uma parte dos seus alunos apenas consegue manter contacto com a escola, desenvolver atividades, criar e experimentar usando dispositivos móveis. É talvez o ponto positivo desta pandemia. O choque covid-19 obrigou a classe docente como um todo, e não só aqueles de sempre que já estavam no terreno a experimentar, a aderir ao digital em força.

Não é algo de positivo - estamos em reação, a tapar buracos, por muito que nos grupos de redes sociais se iludam com o aparente sucesso de um falso Ensino à Distância apoiado em tarefas, vídeoconferência (com os docentes correndo riscos legais, porque nos normativos não os protegem em caso de violação de dados ou imagem dos alunos) e plataformas. Mas suspeito que à medida que formos regressando à normalidade possível - um processo que irá demorar meses, senão anos, as ferramentas agora entusiasticamente agarradas não serão de todo abandonadas. Serão usadas com menor intensidade, em apoio ao ensino presencial, simplesmente porque facilitam gestão de projetos, pedagógica e administrativa. Será que um docente que se habitue a usar formulários digitais para testes, que podem até autocorrigir-se, quererá voltar a corrigir dezenas ou centenas de testes à mão? É um dos exemplos mais óbvios que me surge.

Uma coisa se tornou aparente. Aquela cena das tecnologias e media digitais estarem a estragar a nossa sociedade, a distrair a juventude, a decadência de ideias nas redes sociais, a tirar a pureza à nossa forma de estar no mundo? Em isolamento social de combate à pandemia, foram estas as tecnologias que nos uniram, quebraram isolamentos, e permitiram uma ligação entre professores e alunos. Ironias da história.

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