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sexta-feira, 17 de março de 2023

Anti-Rato

Estou finalmente a usar os computadores escola digital em sala de aula, e das primeiras coisas que fiz foi proibir o uso de ratos. Seguiu-se logo um coro de protestos dos alunos. "Mas professor, com o rato é mais facil, o do portátil não dá jeito, é difícil...". 

Exato, disse-lhes. É mesmo por ser mais difícil (do ponto de vista de crianças de dez anos, claro) usar o computador sem rato que o proíbi. Não quero que se habituem a muletas, e estou aqui para ensinar-vos a ir mais longe.

Cheguei a avisar que qualquer rato detetado na minha aula iria ser devorado pelo gato que tenho no gabinete. "O professor tem um gato no seu gabinete", perguntam, e eu mostro-o: desenho no quadro um martelo. Com olhos, bigode e sorriso, para não traumatizar demasiado as crianças.

Na aula seguinte, estamos a experimentar trabalhar com uma aplicação comum de criação de apresentações (TIC não é só programação e robótica, como bem gostaria...), e numa das opções os alunos têm de fazer scroll para ver mais informação. Como fazer, sem rato? Levanto a mão, inclino o meu portátil, e digo-lhes: meninos, olhem, dois dedos, coloquem o rato onde precisam de fazer scroll, e deslizem os dois dedos no centro do trackpad para cima e para baixo.

A aula explode num coro de oooohs! e aaaahs!. Alguns levam a mão à boca, de tão espantados que ficaram (não é hipérbole, vi mesmo uma das minhas alunas a fazer esse gesto). "Professor, não sabíamos que era possível fazer isto" é o comentário mais comum. Exato, digo, é o que acontece por se habituarem ao excessivamente simples. Ficam sem saber que podem ir mais longe.

Não simplificar em excesso é um ponto importante na educação digital.

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