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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Discrição


Há sempre aqueles alunos em que não reparamos. Ou aliás, reparamos, discretamente. Vemos que estão compenetrados no seu trabalho, concentrados no desenvolver das suas ideias, imersos no fluxo criativo. Não damos por eles porque não pedem ajuda ou atenção. Organizam o seu espaço e seguem em frente. É o caso desta aluna. Desde que iniciou o seu projecto final, para aí à três aulas, contam-se pelos dedos de meia mão as vezes que pediu alguma ajuda. A que recordo foi o perguntar se era boa ideia gravar a voz para melhorar o seu projecto. Passa-se perto do seu lugar e ouve-se hiphop suave. Estamos num espaço de trabalho criativo, porque não poder ouvir música enquanto se trabalha? O rato saltita entre a janela do browser aberta no YouTube, a janela de trabalho no Vegas em equilíbrio de pistas que formarão um vídeo final, e o editor de imagem afadigado em criar elementos gráficos com transparência. Pára um pouco e perginta professor, para o vídeo qual é o melhor formato para transparência? PNG, digo-lhe, sabendo que não é preciso mais. Discreta, a fluência que revela mostra ao mesmo tempo criatividade estimulada e sólidas aprendizagens prévias. Um fluxo de trabalho que envolva ao mesmo tempo diversas aplicações não é fácil nestes níveis introdutórios, e isso sente-se no trabalho dos colegas. Vai, mas os pedidos de ajuda são muitos. Tudo bem, estou lá para isso mesmo, mostrar-lhes e recordar o que podem fazer, como podem ir mais longe, a partir das suas ideias. Nesta aluna noto algo mais, por entre a intensa concentração. Está a cantar, baixinho, para si. Alheada do mundo enquanto constrói o seu projecto. Reparamos nestes alunos, claro, mas fingimos que não, para lhes dar espaço e não interferir com o seu fluxo criativo.

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