sábado, 10 de outubro de 2020

Notas Formação PTD

 Tema III - Disciplinas TIC 9.º e 10º e 1000 Salas TIC - Atividade 8

Da comparação entre o antigo programa da disciplina de TIC (9º e 10º anos) com as aprendizagens essenciais de TIC, sublinho o aspeto que me parece mais fundamental - o foco no tipo de aprendizagens a efetuar.

O antigo programa de TIC era conhecido, de forma depreciativa, como o programa Microsoft. Algo que até nem é muito justo, uma vez que o documento incentivava ao uso de software livre, mas este aspeto diluiu-se entre os hábitos dos docentes, formatados para uso de ferramentas específicas, e a disponibilidade de uma sala TIC equipada com computadores em LAN dedicada, que corriam sistema operativo windows com o correspondente pacote de aplicações de produtividade. No entanto, a verdadeira razão para este tom depreciativo tem origem, de acordo com o que observei enquanto coordenador TIC que acompanhava os docentes desta disciplina, no tipo de atividades que eram propostas.

Estas eram, essencialmente, procedimentais. O currículo na prática abordava-se através de atividades em que o foco estava aprendizagem rotinável de funções, opções e metodologias de trabalho de ferramentas digitais específicas. Tal estava previsto no programa, que elenca de forma exaustiva ferramentas e aprendizagens esperadas de acordo com as suas funções. Isto desassocia a ferramenta digital do seu contexto. É o foco na ferramenta pela ferramenta, o aprender a usar funções sem, no entanto, ser-se desafiado a dar o passo seguinte: que uso dar às ferramentas, como é que elas podem realmente capacitar o indivíduo. É um pouco como aprender a ler memorizando e rotinando o alfabeto, mas nunca dar o passo de ler um texto.

É fácil criticar, após estes anos todos, o que hoje nos parece uma evidente falta de visão. Mas na verdade, talvez a questão não seja de falta de visão como de passo elementar. À época, com a ainda incipiente sociedade de informação a despertar-nos para o digital, essas competências elementares faziam falta. Entretenanto evoluiu-se, e abordar hoje TIC dessa forma é caminho certo para garantir baixo nível de aprendizagem nos alunos. Se o elementar de ferramentas não deixa de ter a sua importância, já não é o fundamental na sociedade contemporânea e de futuro próximo.

Há aquela frase-chavão sobre a escola estar a preparar futuros adultos para profissões que ainda não foram concebidas. Uma metáfora para ser tomada em doses adequadas, mas que espelha a realidade da evolução conceptual do digital. Compreender a computação, perceber o impacto transformativo que está a ter nas nossas vidas, aprender conceitos de base que permitam aos alunos apropriar-se dos aspetos avançados da computação e usá-los em seu proveito, ao invés de serem atores passivos na sociedade digital são hoje mais importantes do que a aprendizagem de técnicas de formatação em documentos. Empoderamento do indivíduo, e não rotinação, é o que se necessita para uma formação tecnológica e humanista completa. 

Exato, acabaram de ler uma variação do "entregar os meios de produção aos trabalhadores".

É nessa vertente que surgem as aprendizagens essenciais de TIC. As ferramentas não deixam de ser fundamentais, mas apenas como suporte a aprendizagens mais profundas. Trabalha-se programação, algoritmia, multimédia e 3D, publicação web, produção e edição documental não como objetivos finais, mas como meios para aprendizagens ricas, significativas, contextualizadas na realidade dos alunos. A metodologia de projeto, nisto, é essencial como o elemento aglutinador que une a necessária aprendizagem elementar de ferramentas à visão mais abrangente de empoderamento e capacitação do aluno. 

Para isto, o ter uma sala TIC de estrutura rígida deixa de ser fundamental. Pode até tornar-se um impedimento. Parte das atividades decorrentes desta ótica partem de bases colaborativas. Outras, envolvem o uso de artefactos (robots, placas) que não se ajustam a espaços de trabalho rígidos. A evolução técnica das ferramentas é implacável com hardware rígido. E ainda há a dimensão que a educação digital teima em ignorar, a do crescente potencial dos dispositivos móveis como ferramentas de trabalho, criatividade e aprendizagem - aprendizagem que se baseie no criar e fazer, não no consumir informação textual e vídeo. Diversidade de meios computacionais, para que os alunos apreendam fluxos de trabalho flexível e não rotinas específicas a um dado sistema operativo, são ambientes mais propícios a estes princípios do que uma sala de estrutura rígida.

A evolução de TIC passou-a de uma área de ensino elementar para uma de aprendizagem abrangente. Evoluiu-se do foco na ferramenta pela ferramenta para a capacitação dos alunos nos elementos avançados da tecnologia (pensamento computacional, programação e robótica, Inteligência Artificial, sociedade digital). Faz sentido que isso seja explorado em área própria, com docentes especializados. Mas sem perder de vista a interdisciplinaride, a conjugação dos contextos educacionais mais vastos dos alunos, enriquecendo outras áreas com a contribuição das vertentes contemporâneas do digital.

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