sábado, 11 de janeiro de 2014

Doìng


Durante uma visita de estudo ao Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva convidei um pequeno grupo de alunos a vir explorar o espaço Doìng. Quis mostrar aqueles alunos que têm mostrado potencial no 3D (um anda a experimentar simulação com o Endorphin e outro vai dominando diferentes aplicações para criar mundos virtuais) a impressora 3D opensource patente no espaço. Infelizmente, desligada. Um dos alunos observou que se acha fantástico e incrível que se faça qualquer coisa no computador e depois a impressora passe para o papel, ainda mais fantástico é que se imprima um objecto.


A mais valia do espaço Doìng são as zonas onde as crianças podem experimentar livremente. Brincámos com a pintura de luz, mas os alunos deslumbraram-se com o espaço onde podem brincar com a electricidade, montando circuitos a partir de peças modulares que accionam lâmpadas, luzes em série, sinais sonoros ou pequenos motores. Foi muito interessante vê-los empenhados a experimentar, ligando, desligando, mexendo livremente nos objectos para experimentar e ver no que dava.


O outro espaço que os deixou fascinados foi a "máquina de berlindes", essencialmente uma parede esburacada e uma enorme diversidade de peças com que se podem montar esquemas bizantinos para fazer deslizar berlindes com o máximo de complexidade. Foi, novamente, extremamente interessante ver os alunos a puxar pela cabeça à procura de soluções para os problemas que se iam colocando. Mexiam, experimentavam, testavam ideias, procuravam novas combinações e lá foram montando um percurso que até terminava num acolhimento digno para os berlindes cansados após os volteios do percurso. Esquecemo-nos dos colegas, do resto da visita, e por vontade deles teriam lá continuado a mexer. A bricolar, como dizia Papert. É interessante ler sobre o poder que este tipo de aprendizagem tem. Basta pegar nos livros de artigos de Seymour Papert, Sherry Turkle ou Michell Resnick, talvez os maiores defensores de uma abordagem à aprendizagem que valoriza o experiêncial, o mexer, colocar as mãos, testar e criar in loco. Mas ver a reacção das crianças quando lhes é dada oportunidade para o fazer é algo de maravilhoso.


No nosso sistema massificado de ensino sinto cada vez mais uma viragem fortemente formalista, alicerçada na medição do desempenho em testes padronizados e com consequências ao nível das abordagens pedagógicas que têm de garantir o sucesso nestes testes, optando pelo drill and practice, exposição e memorização com espaço cada vez menor para correlação e abordagens experimentais. Já uma abordagem que estimule exploração livre, que leve ao estimular de processos mentais de exploração criativa através de desafios e manipulação parece cada vez mais longínqua nos tempos que correm. Mas é tão importante fazê-lo, mostrar que este tinkering é fundamental para estimular o desenvolvimento de processos mentais flexíveis de abordagem aos problemas. Adquirir e acumular conhecimento é útil e necessário. É preciso saber para ir mais além. Mas também é preciso mexer e experimentar. São dois elementos da equação da criatividade, e um parece não ter lugar nos correntes sistemas educativos esmagados por pressões de conservadorismo ideológico e interesses económicos.

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