terça-feira, 10 de outubro de 2017

ESA Autumn Teachers Workshop


Passámos o final da semana passada a ter uma experiência extraordinária: participar num dos workshops bi-anuais promovidos pelo departamento de educação da Agência Espacial Europeia. Decorreu na cidade holandesa de Leiden, durante quatro dias muito intensos, entre sessões de trabalho prático, palestras de especialistas, partilhas informais e uma visita ao ESTEC, o núcleo de pesquisa da ESA sediado em Noordwijk. Este evento reuniu cerca de cinquenta professores vindos dos vários países da União Europeia ou associados à Agência Espacial, escolhidos entre cerca de duzentas candidaturas vindas de toda a europa. Portugal esteve representado com a participação de cinco docentes. Pelo que nos disseram, fomos um dos países que mais candidaturas enviou, obrigando a um enorme cuidado na seleção dos participantes. Uma informação que eleva a fasquia sobre a nossa presença neste evento.


O encontro decorreu nos espaços do Hilton Garden Hill, nos arredores da cidade de Leiden, onde os participantes ficaram hospedados. Em três dias de sessões de trabalhos intensivas, foram explorados elementos do currículo Learning with Space desenvolvido pelos vários gabinetes de trabalho que compõem a ESA Education. Este conjunto de atividades, muito abrangente, procura estimular a aprendizagem científica com experiências práticas e divertidas, utilizando a exploração espacial como ponto de partida.


Todos os docentes receberam um livro de atividades, com projetos práticos para experimentar em sala de aula, e um kit Learning with Space, com materiais e componentes pensados para desenvolver um conjunto de experiências que tocam nos campos da física e da química. Com uma prenda especial: cada kit traz um cubo de alumínio 6061, uma liga metálica utilizada na construção de naves espaciais. Apenas um, porque como nos explicaram, mais do que isso tornaria proibitivo o custo do kit. Imaginem o quão espantoso é poder pegar num cubo de metal e dizer aos alunos bem, isto é o material de que os satélites são feitos.


As sessões de trabalho foram entrecortadas por palestras feitas por especialistas da ESA, que nos vieram falar dos sistemas de lançamento (os foguetões, traduzindo para os não iniciados nestas coisas), ciência dos materiais (a palestra que, para nós, foi a mais interessante, por ter tocado na linha da frente do desenvolvimento de materiais com impressão 3D), satélites e astronáutica. Estas complementavam o lado prático das atividades, expandido os conhecimentos dos participantes.


E que tal um pouco de espectrografia low cost com CD-Roms e uma câmara escura construída em papel? Este é um dos muitos exemplos de atividades desenvolvidas com estes kits educacionais. Apesar de intensos e numerosos, são uma amostra do que se pode fazer, um foco que teve como lema, nas palavras de Shamira Hartevelt, coordenadora deste programa, don't do ten things in a rush, focus on a few, do two, but do it well. É, diga-se, um bom princípio orientador para workshops.


Devo dizer que, apesar de ter adorado participar neste evento, não sou talvez o tipo de professor mais adequado para o frequentar. Estas atividades estão pensadas para docentes nas áreas das ciências, e são excelentes para desenvolver a cultura científica. No meu caso, como professor com um pé nas artes e outro na informática, não há uma aplicabilidade direta das atividades que experimentei e as minhas práticas em sala de aula. Não há, sequer, correspondência de matérias, tirando a exceção da experiência com programação em Python num Raspberry Pi, a que para mim foi a mais interessante de todas as experiências dos workshops. Outras, como as atividades com o kit Teaching with Space ou a construção de foguetões, permitem expandir a gama de atividades do clube de robótica.

Apesar desta falta de linearidade na aplicabilidade do que aprendi neste evento, senti todas as sessões como muito úteis. Ser professor, hoje, obriga a sair dos limites das área disciplinares de origem e perceber um pouco do que se passa nas restantes. A educação contemporânea, pensando numa preparação mais eficaz das crianças para os desafios de um futuro próximo dominado pela automação, robótica, algoritmia e uma economia em que o elemento fundamental é o conhecimento obriga-nos a pensar de forma multidisciplinar. É aqui que a diversidade de experiências e o afastamento das minhas áreas de trabalho no que toca aos conteúdos deste workshop é uma mais valia. Permite-me, por exemplo, perceber melhor como estruturar projectos interdisciplinares que cruzem TIC e ciências, quer no interesse específico da impressão 3D quer noutras ideias de trabalho em projecto. As partilhas deste Teachers Workshop são uma enorme mais valia para todos os participantes, independentemente da área a que pertençam.


No final dos workshops, dois professores portugueses muito exaustos e recompensados. Eu e Marco Neves, docente de informática no Agrupamento de Escolas da Batalha, com quem já desenvolvemos sessões de introdução à impressão 3D.


Não é todos os dias que se pode conhecer um astronauta. E, com um pouco de paciência, poderia ter ficado a conhecer quase todos os astronautas da ESA que não estão correntemente em missão. Na foto, Jean-Jacques Favier, que voou diversas missões nos Space Shuttles da NASA.


E, muito mais fantástico para quem trabalha em domínios onde o estímulo à diversidade de género é fundamental, conhecer Claudie Haignaré, veterana de missões Soyuz e dos primeiros tempos da Estação Espacial Internacional, primeira francesa no espaço e primeira europeia na ISS.

O momento mais absolutamente fantástico destes dias foi a visita ao ESTEC, centro de desenvolvimento tecnológico da ESA. Coincidiu com o seu dia aberto, única altura do ano em que todos os interessados o podem visitar. Como parte do programa de workshops da ESA, provavelmente poderíamos ter visitado a ESTEC em qualquer altura, mas no dia aberto pudemos explorar sem limitações os espaços do centro. A desvantagem foram as multidões que enchiam os espaços. Parece-nos estranho, vivendo num país onde se os eventos culturais e científicos atraem público que dificilmente qualificaríamos como enchente, ver filas enormes de pessoas à espera para um autógrafo de um astronauta. Fiquei com a sensação que lá, a cultura científica e a paixão pelo espaço, não são domínio de minorias mas uma paixão popular.


Os diferentes espaços do ESTEC estavam acessíveis aos visitantes (com restrições de segurança). Nos corredores, investigadores mostravam e explicavam os projetos de investigação em satélites, astronáutica ou materiais a todos os visitantes. Fiz paragem obrigatória na zona dos especialistas em impressão 3D, e o que lá vi e aprendi, fica para um post específico. Mas tive uma boa surpresa. Imaginem que os investigadores, habituados às máquinas mais avançadas, escolheram uma impressora da BEEVERYCREATIVE para mostrar impressoras 3D FFF. É impossível não sentir uma pontinha de orgulho.


Fisicamente, o impositivo vão do edifício de testes impressiona.


A maior surpresa do ESTEC é o Erasmus Centre, a zona de competência da exploração espacial. Zona que apoia as missões da ESA, onde são desenvolvidas experiências de robótica ou microgravidade, entre outras. O espaço onde há maquetes em escala real, e réplicas, de alguns dos ativos sob controle da ESA.


A família de lançadores da ESA, com destaque para o Ariane 5. O proton russo explica-se com a parceria com a Rússia no lançamento de astronautas para a ISS.


A maquete em escala 1:10 da Estação Espacial Internacional domina um espaço que conta com réplicas do Mars Lander, cápsulas Soyuz, maquetes das ATV e outras naves ou satélites construídos e lançados pela ESA.


Também em evidência, as réplicas dos rovers marcianos.


Noutra zona da ESTEC estava um pavilhão dedicado à indústria astronáutica holandesa, que reunia empresas ligadas à área e entusiastas, como este clube de construção de foguetões.


A 501st Legion, Dutch Outpost marcou presença na ESTEC. Aqui, estes stormtroopers guardam o astronauta alemão Ernst Messerschmid.




Mais alguns detalhes do Erasmus Centre, com o pára-quedas do Mars Lander, detalhe da ISS, e pormenor de um rover lunar autónomo.


O grande destaque estava na réplica do módulo Columbus da ISS, o primeiro módulo construído pela ESA. Estas réplicas e maquetes não são decorativas, são instrumentos de trabalho das equipas de acompanhamento de missão e cientistas que testam em terra as operações a desenvolver no espaço. Quer em órbita, quer na poeira marciana, o espaço é uma zona onde não há margem para erros.


Fim de missão, com três dos portugueses fisicamente cansados mas mentalmente enriquecidos, e com as malas tão pesadas com materiais recolhidos que tivemos de fazer alguma engenharia para não despertar atenções indevidas na companhia aérea, prontos para o voo de regresso em Schiphol. Uma aventura de aprendizagem intensa, que abre portas e dá ideias para novos projetos TIC em 3D/Fab@rts.

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