Deixem-me dizer o óbvio. A vantagem dos momentos de partilha é partilhar. Pois, bem sei. Em minha defesa, avisei. Tl;dr: este post é um misto de reflexão e resmungo.
Se a participação das TIC em 3D na iniciativa
Programação no 1º. Ciclo tem sido interessante, gratificante e um passo necessário para oferecer mais valias aos nossos alunos, tenho tido muitas dúvidas sobre a forma como estamos a trabalhar. Implementar não tem sido fácil. Quando a iniciativa surgiu, havia interesse por parte dos docentes do 1º. Ciclo, que em grande parte não se traduziu em disponibilidade para integrar este projecto. Essencialmente por razões logísticas. No arranque do ano lectivo, entre reiniciar as aulas de TIC, dar o apoio de
backoffice ao agrupamento e a Maker Faire, não houve tempo para ir às escolas do primeiro ciclo logo em setembro. Outubro foi o mês em que finalmente fiz uma avaliação das condições das salas de informática das EB1 (mas houve aqui uma dose de preguiça minha, poderia tê-lo feito em julho, durante a manutenção do final de ano lectivo). O arranque final foi em novembro, com a minha ida regular às quatro escolas do Agrupamento. Todas as semanas dinamizo duas sessões de noventa minutos de actividades de introdução à programação, rodando entre as quatro escolas. O que para mim é semanal, para os alunos é quinzenal. Consegue-se assim assegurar que todas as escolas consigam participar, mas preocupa-me a desigualdade induzida. Em duas escolas, pela sua dimensão, todos os alunos de um ano de escolaridade estão cobertos por este projecto, mas nas maiores ficamos por uma turma. Gostaria de poder assegurar uma maior abrangência, mas tendo também de assegurar as TIC no terceiro ciclo, o apoio informático ao Agrupamento, e outros projectos, ser-me-ia incomportável abordar isto de outra forma.
Sabia que noutras escolas as coisas não eram assim, com uma mais eficaz integração entre os professores de informática e uma maior regularidade. Este projecto é desenvolvido como parte da oferta complementar ou como actividade de enriquecimento curricular, e algumas escolas conseguiram investir de forma ambiciosa, com protocolos com as câmaras para disponibilização de equipamentos. Não foi o caminho que seguimos. Não estamos nem como oferta complementar nem como AEC, sendo um projecto informal (mas levado a sério) com o primeiro ciclo, algo que já temos alguma tradição de desenvolver. Sendo este um projecto piloto, optei por uma estratégia de intervir, ver e aprender, mantendo simplicidade a curto prazo para despertar o interesse dos alunos, pais, professores e comunidade educativa, e poder alavancar em conselho pedagógico uma versão mais ambiciosa desta iniciativa, talvez através das AEC, caso este projecto piloto do ministério ganhe pernas, fôlego e se mantenha e cresça. Algo que espero que aconteça. Mantendo a devida distância crítica, partilho da ideia que abordar a introdução à computação, programação e pensamento computacional de forma igualitária para as crianças no ensino básico é uma enorme mais valia para o seu futuro. Tudo o que abra horizontes de aprendizagem e desenvolvimento de competências é de incentivar. Note-se que o objectivo destes projectos não é gerar gerações de futuros programadores, mas dotar todos de competências elementares de computação e informática. Tal como o objectivo de ensinar a ler não é formar escritores mas permitir a todos o acesso a um código de comunicação comum para aquisição e partilha de conhecimento.
Tem sido uma experiência recompensadora. Pelo entusiasmo dos alunos e adesão dos docentes envolvidos. Pelo sentir que estão de facto a aprender algo novo, pelo brilho nos olhos quando descobrem que foram capazes de superar um desafio. Por me estar a obrigar a mergulhar num campo, o da programação, onde me sinto pouco à vontade e com poucas competências (notem que a minha formação de base é artística). Pelo aprofundar de relações interciclos, descobrindo outros ritmos, metodologias, e conhecendo a realidade do dia a dia das escolas do primeiro ciclo. Por outro lado, o arranque tardio, a pouca abrangência e o pouco tempo com os alunos preocupam-me.
Das partilhas de ontem no encontro da iniciativa em Lisboa, percebi que a realidade da implementação desta nas escolas está no geral próxima da minha. Aquelas que conseguiram afectar mais recursos humanos conseguem maior abrangência, mas a maior parte funciona de modo similar ao nosso. Com dificuldades, de forma embrionária, mas persistindo e avançando. O interesse está desperto, as condições para evoluir começam a estar criadas. Com muito esforço da parte dos professores envolvidos e um toque de informalidade que foi recordado ser fundamental. Neste tipo de projectos, quando a tentação de metrificar e operacionalizar em todos os detalhes prevalece, perde-se a liberdade criativa que lhes dá a mais valia. Saí do encontro mais aliviado. Afinal não sou só eu que tenho dúvidas, problemáticas, vontade de trabalhar mas questões sobre a adequação das abordagens e metodologias que escolhi.
Da manhã passada neste encontro (era suposto ser um dia mas tive outro compromisso) ainda vim com outra excelente experiência: o
workshop sobre pensamento computacional e introdução à computação sem uso de computadores, onde aprendi imensa coisa que provavelmente é óbvia para quem tem informática como formação base, mas que para mim era algo que sentia que precisava. Truques de cartas para compreender as noções de sequenciação e de algoritmo, jogos simples que permitem compreender o que é a linguagem binária ou matrizes de representação de dados, e jogos de cartas que permitem perceber a sequenciação rigorosa necessária para programar. Computar sem computadores. Já conhecia o conceito, mas a minha falta de bases nesta área impedia-me de o explorar. Esta faísca no
workshop foi importantíssima. Links para explorar, como o
Computer Science Unplugged, e bolas, só posso agradecer a uma das formadoras por me ter desafiado a fazer uma versão impressa em 3D do
Cody & Roby. Bolas. Ficou o bichinho. Bolas. Mais um projecto... que no Programação 1CEB, se junta ao
Code2Fly, que estou em pulgas para arrancar. Eu sabia que ia dar uso à impressora 3D neste contexto... ou aliás, sabia que tinha de encontrar forma de lhe dar uso.
Evil plans, my friends, evil plans.
A segunda parte de um dia que deveria ter sido inteiramente dedicado à Programação no 1CEB foi passada no auditório do Liceu Camões, na cerimónia da entrega dos prémios de desenvolvimento do Ciência na Escola. Sim, eu sei, estas nomenclaturas. Já não é liceu que se diz, é Agrupamento e Escola Secundária. Uma cerimónia que os responsáveis da DRELVT gostam de marcar com alguma pompa, assinalando o crescimento das candidaturas e o volume financeiro envolvido. Este ano, há algumas novidades. A cerimónia final e exposição será em Lisboa, e ao contrário dos anos anteriores apenas estarão presentes os cem melhores projectos a concurso.
Este lado de competição, de meritocracia, de investir em projectos financiados por mecenato educacional, desagrada-me um pouco nesta iniciativa. Se bem que é-lhe inerente, e vive-se bem com isso. É, diria, o preço a pagar por receber apoios financeiros. Mas é uma mentalidade que me escapa um pouco. Participo, ou aliás, participamos, que estas coisas não se fazem sem ajuda dos alunos, colegas e direcção, mais pela oportunidade de desenvolver algo diferente do que pela vontade de chegar aos píncaros. Até nos é um pouco indiferente o ganhar de prémios finais. Sabem bem, já aconteceu com a primeira participação nesta iniciativa, mas temos objectivos a um prazo mais longo do que a anualidade do Ciência na Escola. A cada novo projecto, a cada nova actividade, desenvolvemos trabalho que demonstra a utilidade, potencial pedagógico e projectos específicos com tecnologias 3D, primeiro com o lado totalmente digital dos mundos virtuais e agora com a tangibilidade trazida pela impressão 3D. Cada novo projecto é mais uma ideia tornada tangível, executada, aferida, estruturada e partilhada. Mais um passo na sustentabilidade desta intuição que a impressão 3D tem uma enorme mais-valia educacional.
Mas claro que gostaríamos de estar, pelo menos, entre os cem melhores projectos. Vamos trabalhar para isso, embora mantenhamos o foco no aprofundar da impressão 3D. Porque não se deixa de sentir orgulho no que se faz, e no poder dar aos alunos a possibilidade de trabalhar directamente como uma tecnologia de ponta que não lhes é acessível no dia a dia. Confesso que estou em pulgas por ver as primeiras moléculas a serem tornadas tangíveis pela beethefirst, sentimento que é partilhado pelas parceiras nesta ideia. A tentação de fazer um protótipo é muito elevada, mas quero que os resultados saiam do trabalho dos alunos e não do meu.
Agora... arrancar o Tinkercad e modelar um
Roby em 3D? Parece-vos bem? Por aqui estamos apaixonados pelo 3D Printing.