quinta-feira, 6 de abril de 2017

Instantes


Semana sem impressões 3D ou drones, a acompanhar alunos em visita de estudo a Londres, mas não sem TIC. O Science Museum revelou-se uma excepcional fonte sobre a história e evolução das ciências da computação, com muitos dos mais marcantes e significativos dos seus marcos em exposição. Começo logo com este, o modelo do Engenho Diferencial construído em 2000 a partir dos planos originais de Charles Babbage.


Esta máquina maravilhosa, indutora de delírios steampunk, aponta para um futuro que não chegou a acontecer, com o abandono do projecto por Babbage após perder o financiamento do governo britânico, e também por estar mais interessado na concepção do seu engenho analítico.




O modelo funcional do engenho diferencial inclui também a impressora para output dos resultados.

Mais à frente no espaço de exposição encontramos um detalhe das engrenagens de cálculo do engenho diferencial.


Se os projectos de Babbage nunca chegaram a ser completados, na alemanha foram construídos engenhos diferenciais com aplicações em cálculos para governos e indústria. No museu encontra-se preservado um destes engenhos, utilizado em Inglaterra para calcular tabelas de esperança média de vida aplicadas a seguros.


Noutra área de exposição, uma grande colecção de máquinas de calcular mecânicas, material de burótica que, nos escritórios e centros de pesquisa, antecedeu a introdução dos sistemas de computação digital.


Estando no Reino Unido, máquinas Enigma encontram-se em muitos museus. Este exemplar recorda-nos o problema computacional colocado pela encriptação na II Guerra, o desenvolvimento das bombes e do computador Colossus, o trabalho de Alan Turing, seminal no desenvolvimento do conceito de computador, e também como elemento da equipe de cientistas que trabalhou no quebrar dos códigos criptográficos da máquina Enigma.


Preservado no museu encontra-se este computador, um dos primeiros para uso civil. Construído em 1952 pela Elliot, este Elliot NRDC 401 foi recentemente restaurado.



O restauro cuidado mostra bem como eram estes primeiros computadores, com a fiação dos circuitos, ecrãs de radar para controle e máquinas de teletype para introdução de dados.



Se o Engenho Diferencial seria, essencialmente, uma calculadora, Babbage e Ada Lovelace deram um salto conceptual na direcção das noções contemporâneas de computação, concebendo uma máquina capaz de computação geral. Preservado no museu está um modelo do Engenho Analítico.


A evolução da forma do computador pessoal encontra-se bem ilustrada nesta exposição, que nos mostra alguns dos equipamentos de computação pessoal mais marcantes. Podemos ver um ZX Spectrum, um iMac, um OLPC e um iPad, entre outros.


Antes de haver computadores pessoais como hoje os concebemos, haviam máquinas de computação generalista utilizados em escolas e empresas. Na foto, um desses computadores, um CDC DDP-516.



Este CDC 6600 mostra bem o que eram os computadores mainframe dos anos 60.


Em exposição, um Xerox Alto, precursor dos modernos interfaces gráficos. Note-se a orientação do ecrã, e ao lado, um rato original de Douglas Englebart. O Alto foi a primeira implementação no NLS de Englebart, que define a forma como hoje interagimos com o computador.


Com  o Alto e posteriormente o STAR, os investigadores da Xerox criaram as bases dos interfaces gráficos. Steve Jobs licenciou a tecnologia para a Apple que desenvolveu os primeiros computadores de interface gráfico a chegar ao mercado. Em exposição, o Apple Lisa, o primeiro computador com GUI da Apple.



O primeiro servidor web, criado por Berners-Lee e os seus colegas no CERN, está preservado neste computador NeXT, a primeira máquina na world wide web.



Noutra área do museu, encontramos este Cray-1, um dos lendários super-computadores desenvolvidos por Seymour Cray. É fascinante ver como estas máquinas de topo na sua época são agora peças de museu, tornadas obsoletas pela marcha incessante da investigação e desenvolvimento em computação.



Para lá deste repositório de história da computação, a própria cidade é um exemplo de como sistemas de gestão de informação pervasivos condicionam os nossos comportamentos. Tendo crescido de forma orgânica ao longo de séculos, a cidade dispõe de um fortíssimo ambiente informacional, algum visível, outro intuído, que nos guia e condiciona. Há uma pervasividade de câmaras de videovigilância, mas o que mais intriga são as barreiras e ajudas incorporadas na arquitectura urbana - desníveis estudados nos passeios, mobiliário urbano desenhado para desencorajar permanências longas. Talvez o melhor exemplo se encontre no complexo sistema de metropolitano londrino, onde a combinação de design de sinalética e gestão de percursos mantém a fluidez do andamento de passageiros. É um ambiente informacional carregado, cheio de mensagens redundantes em diferentes media, desenhado para facilitar a vida ao passageiro no labirinto de passagens subterrâneas e linhas de metro.

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