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quinta-feira, 11 de agosto de 2016
FAB: The Coming Revolution on Your Desktop
Neil Gershenfeld (2005). FAB: The Coming Revolution on Your Desktop–from Personal Computers to Personal Fabrication. Nova Iorque: Basic Books.
Mentor dos laboratórios de fabricação (fablabs), em essência da democratização do acesso à tecnologia e estimular do saber fazer junto das comunidades, figura de base do que hoje chamamos de cultura maker, Neil Gershenfeld estruturou em 2005 um conjunto de ideias-base e experiências práticas que, na altura, estavam restritas a contextos específicos, mas que hoje alastraram num movimento dinâmico à escala global.
Grande parte deste livro é o que se espera. Gershenfeld detalha algumas das tecnologias de base dos Fab Labs (microcontroladores, linguagens de programação acessíveis, ferramentas de maquinação e manufactura aditiva), mostrando exemplos de múltiplas aplicações localizadas que contrariam o paradigma de design industrial vigente. São exemplos que vão de escolas indianas a projectos universitários, e têm em comum a procura de soluções locais para problemas que se fazem sentir em comunidades reduzidas. Esse é um dos elementos estruturais da cultura maker, do DIY, que lhe confere poder social transformativo.
Mais pertinentes, do ponto de vista de um educador, são duas outras ideias contidas neste livro. Gershenfeld traça uma relação muito directa entre o tipo de trabalho propiciado pelos Fab Labs e novas formas de aprender, centradas não na memorização de conhecimentos padronizados mas na aprendizagem dinâmica, significativa, onde conhecimento teórico e prático se unifica no trabalho de projecto. Este aspecto do fazer (propiciado pelo saber) prático, com implicações na expressão e criatividade e no desenvolvimento de competências técnicas e aprendizagens CTEM é uma das grandes mais-valias trazidas pelas metodologias de trabalho potenciadas pelos Fab Labs/makerspaces. Este argumento baseia-se muito no trabalho de Seymour Papert, colega de Gershenfeld no MIT, e talvez o maior proponente do conceito de aprendizagem construtivista, que parte das teorias de desenvolvimento cognitivo de Piaget, influenciadas pelo potencial das tecnologias digitais aplicadas a uma aprendizagem estruturada em projectos práticos.
Outra grande ideia que sustenta os argumentos de Gershenfeld é o potencial desta abordagem no derrubar das barreiras entre conhecimentos artísticos, técnicos e intelectuais. Quebrar a separação pouco natural entre a técnica e o conhecimento, herdeiros do que Gershenfeld aponta como uma tradição vinda do renascimento que valoriza o intelectualismo e relega a aplicabilidade prática para um remoto segundo plano. Uma ideia explorada em dois níveis, na quebra de barreiras epistemológicas e no reconhecimento do potencial expressivo, artístico e criativo das capacidades consideradas como meramente técnicas (programação, concepção tecnológica, design).
Apesar de escrito em 2005, FAB ainda se sente como revolucionário. Onze anos depois, a cultura maker está em crescimento, mas ainda é vista como algo à margem da normalidade técnica e cultural. A impressão 3D, algo incipiente à data de edição deste livro, afirmou-se como tecnologia de fabricação e prototipagem. As necessidades de preparação das crianças para um futuro exigente, aliadas à progressiva disponibilidade de tecnologias de baixo custo (impressão 3D, arduino, entre outras), têm levado os professores e educadores a apostar neste tipo de abordagens, traduzindo-se numa grande diversidade de experiências no domínio da robótica, introdução à programação, sensores/controladores e impressão 3D. As artes adoptaram as linguagens estéticas específicas às tecnologias como forma de expressão plástica. A mudança prometida por este conceito já não é uma especulação.
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