domingo, 5 de abril de 2020

Espírito de Comunidade


É talvez o objeto mais importante que saiu das nossas impressoras. Nestes tempos de crise pandémica, como não podia deixar de ser, colaboramos no esforço Maker para ajudar os profissionais que estão na linha da frente do combate à Covid-19. Não necessariamente os médicos. Podem ser enfermeiros, técnicos e pessoal de apoio dos lares, ou os funcionários das pequenas lojas que se mantém abertas para servir a população. Juntando os nossos esforços aos do Lab Aberto, estamos a produzir viseiras, uma proteção adicional para complementar as formas essenciais de proteção. E, infelizmente, em muitos casos a única proteção.

Chegar lá não foi fácil, foi preciosa a ajuda do Ricardo José Pereira do Movimento Maker para termos acesso a um modelo de viseira que coubesse dentro do volume de impressão das impressoras BEEINSCHOOL. Poderíamos ter adaptado alguns dos ficheiros criados pelo Movimento Maker, mas não quisemos arriscar criar modelos que não fossem utilizáveis. E, também, na educação o estado de emergência gerou dificuldades adicionais, com uma súbita necessidade de implementar canais de comunicação e estratégias de ensino remoto de emergência, literalmente de um dia para o outro. Tempo, foi coisa que se desvaneceu nestes dias.


Mas não podíamos deixar de contribuir. Trouxemos impressoras e filamento da escola, e mal foi possível, iniciámos a impressão de suportes. Conseguimos produzir cerca de seis por dia, imprimindo a 0.2. Poderiam ser mais, se imprimissemos a 0.3, mas preferimos garantir alguma resistência e longevidade aos suportes.

Se as escolas estão cada vez mais a equipar-se com impressoras 3D, no âmbito dos mais variados projetos (TIC, clubes de robótica, Bibliotecas Escolares, espaços Maker, combate ao insucesso), porque não desafiar os colegas que têm acesso a impressoras mais pequenas a colaborar neste esforço? A rede de escolas que se juntou aos Makers para produzir viseiras está a crescer, de norte a sul. Sublinha que o papel da Educação também é social, educar pelo exemplo de ativismo que se dá, e não só pela transmissão de conhecimentos.


Até agora, conseguimos em cerca de uma semana imprimir e entregar cerca de 40 viseiras, respondendo a pedidos que vieram da Santa Casa da Misericórdia da Venda do Pinheiro, enfermeiros do serviço de pediatria de Santa Maria, ou pedidos diretos de pessoal médico ou que tem de manter contacto com público. Parece muito, mas não é. É uma gotinha de água no meio dos pedidos que chegam ao Lab Aberto, que tem coordenado o esforço de entreajuda entre Leiria, Caldas, Torres Vedras e Mafra. Por vezes, com pedidos que chegam ao milhar de máscaras, algo só possível de responder com o empenho de entidades como da Dholetec.

Entretanto, apercebemo-nos de um padrão no nosso esforço. Sabemos que apenas podemos dar uma pequena ajuda, mas há materiais que não temos. E, na impossibilidade de os comprar, porque as lojas estão fechadas e é um risco sair à rua, apelámos à comunidade local. A resposta foi surpreendente. As nossas colegas começaram a vasculhar escritórios em busca de caixas de acetato. As assistentes administrativas imediatamente disponibilizaram elástico e potentes furadores para montar as viseiras. Pais de alunos fazem-nos chegar material, ou oferecem-se para fazer donativos financeiros (nós não aceitamos, mas o Lab Aberto sim). E com isso percebemos que, este nosso esforço de impressão 3D, foi uma forma de capacitar a comunidade em que estamos inseridos. Porque para muitos de nós, a sensação de impotência face à pandemia é enorme. Poder contribuir, ajudar com qualquer coisa, combate essa sensação. Faz sentir que se consegue, afinal de contas, fazer algo.

Espírito comunitário é uma das essências de projetos de fablab. Inesperadament, estamos a ter essa experiência. Por isso, nunca referimos as viseiras que doamos como das TIC em 3D ou em nome pessoal. São o resultado dos esforços conjugados da comunidade do Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro. Uma gota de água que se juntou a um imenso oceano de makers, empresas, escolas e instituições que, neste momento de crise, não baixou os braços e procura soluções.

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