sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Acumulações


A acumulação no meu gabinete de trabalho. Tudo isto são computadores Escola Digital que deviam estar nas mãos das crianças, mas não estão, por danos e avarias. Estes, são aqueles que aguardam levantamento para reparação, ainda poderia somar um igual número de outros cujos problemas são resolvidos por nós, professores. O número de máquinas paradas cresce todos os dias, porque as empresas contratadas pelo Ministério da Educação para realizar a reparação dos equipamentos não dão resposta às necessidades.

Alguns dos equipamentos que estão na fotografia aguardam levantamento para reparação desde Setembro de 2022.  A Inforlândia, empresa responsável pela reparação de equipamentos dos 2 e 3 ciclos, demora entre três a quatro meses entre sinalização, levantamento para reparação e devolução do computador. A Informantém, responsável pelo primeiro ciclo, nem sequer demonstra ter capacidade para responder aos pedidos de reparação.

As avarias são em parte consequência da qualidade fraca dos equipamentos (baterias, teclados que se soltam, sdds, pixels mortos), e em parte consequências do seu uso, com ecrãs partidos ou líquidos derramados. Todas as avarias que os reparadores consideram ser fora do âmbito da garantia, os reparadores cobram valores que demasiadas vezes se aproximam do valor da máquina. O pagamento tem de ser feitos pelos pais e encarregados de educação das crianças.

Agora, reparem, estes computadores são entregues a crianças, que os transportam entre casa e escola. Por muitos cuidados que se tenham, azares vão acontecer. E os pais não estão protegidos em caso de azares. Em Julho de 2022, o ministro da educação prometeu o estudo de uma solução para isto, através do seguro escolar. Seis meses depois, nada foi feito. Note-se que este projeto se iniciou em 2020 com entregas de computadores a crianças. E ainda não há seguro escolar para isto.

O projeto Escola Digital assenta na premissa de que todos os alunos (e docentes) dispõem de um computador. Esse equipamento tem de ser usado nas diversas atividades escolares, quer na sala de aula, quer em casa. Prevê também o alargamento do uso de manuais digitais. Mas, como implementar isto face aos problemas causados pela fragilidade dos equipamentos? 

O uso destes equipamentos é essencial, e obrigatório em muitas escolas, seguindo a perspetiva do projeto. Mas, como podemos resolver o problema levantado pelos encarregados de educação que recusam que os seus filhos sejam portadores dos equipamentos na escola? A recusa tem sentido, porque estes pais sabem que em caso de danos, não estão protegidos e serão responsabilizados financeiramente. Como podemos forçar uma criança a trazer para a escola um computador frágil, sabendo que se se estragar, não há seguro escolar que cubra os danos? Não é ilegítimo que um pai ou encarregado de educação se recuse a isto.

Este ano, foi decidido pelo IAVE e JNE que todas as provas de aferição aos alunos do 2º, 5º e 8º anos sejam feitas exclusivamente em digital. É lógico, se o programa Escola Digital cobre o universo escolar, aplicar este passo. Mas, como é que os alunos cujos computadores estão em reparação irão conseguir realizar provas? 

Apesar do aspeto, a minha escola não é dos piores casos. Analisamos cerca de 20 máquinas por semana, um terço dessas sinalizada para reparação externa. Há escolas com maior volume.

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