segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Termos


A "boa" notícia deste fim de semana: as garantias dos computadores das fases iniciais do Escola Digital terminaram... e a  SGEC vai iniciar o processo de resolução do problema. Note-se o "vai iniciar", como se não fosse atempadamente previsível o fim das garantias.

Isto significa que qualquer avaria do equipamento passa a ter custos. Note-se, em equipamento que tem uso intenso nas mãos de crianças.

Não quero soar dramático, mas o meu instinto diz-me que isto poderá ser o princípio do fim do projeto Escola Digital. Digo isto com amargura, porque acredito nos princípios do projeto - dotar os intervenientes na educação de meios digitais. Mas discordo totalmente da forma como está a ser implementado, com estratégias erradas do meu ponto de vista, e erros inexplicáveis de planeamento. Como este, das garantias.

Como tudo o que diz respeito a este projeto, a coisa é discreta e não chega ao conhecimento público (tirando as notícias depressa esquecidas sobre questões levantadas pelo tribunal de contas). Desta vez, é provável que dentro de alguns meses rebente a bomba, porque todos os alunos dos 2º, 5º e 8º terão de fazer provas de aferição em suporte digital. Algo problemático, devido o que realmente se passa no terreno.

O Escola Digital começou a ter impacto em 2020 (mas foi preparado mais cedo). Dois anos depois, se calhar está na hora de se colocarem perguntas incómodas. Quem, nas instituições e equipes de planeamento, tomou más decisões que vão levar ao descarrilar de um investimento de milhões em fundos europeus?

E que más decisões? Tentemos uma pequena lista:

  • Porque é que não foi acautelada à partida uma garantia de longo prazo para os equipamentos?

  • Porque é que não foi acautelado a inclusão de danos por acidente no âmbito do seguro escolar? Qual é a lógica de forçar um pai/EE a pagar reparações caras de material que não lhe pertence,  sem seguro por acidente para precaver os azares? Por muito cuidadosas que sejam as crianças, o inesperado irá sempre acontecer.

  • Porque é que não se aborda a questão da sustentabilidade do projeto a longo prazo? Entregar 1,5 milhões de computadores sem garantir a renovação sistemática é um tremendo problema no projeto. 

  • Porque é que a reparação de equipamentos está entrege a duas empresas que já mostraram não ter capacidade para este trabalho? Os computadores ficam meses pendurados em processos de reparação. 

  • Porque é que é permitido que a Microsoft utilize este projeto para angariar utilizadores através de dark patterns? Dois exemplos: ao aceder pela primeira vez a uma conta, somos obrigados a assistir a um anúncio que nos explica que o IE é o browser que devemos usar. E não conseguimos usar o equipamento enquanto dura o anúncio (são poucos segundos, mas não permite aceder a mais nada). Outro exemplo: os computadores trazem todos um panfleto que explica aos utilizadores como ativar o Office e os serviços Microsoft através do email de escola dos alunos. Omite, no entanto, que tal só é possível se a escola for utilizadora do M365. Se não for, a ajuda não funciona, e estão mesmo a ver, certo? Os pais a questionar porque é que a escola não os deixa usar a Microsooft.

  • Porque é que não é clarificado o real direito de propriedade dos equipamentos. Todos acham que pertence aos alunos. Na verdade, não, pertence à SGEC, sendo geridos pelas escolas. O que significa que os utilizadores não têm direito de uso livre do computador e kit de conectividade (como, por exemplo, instalar um SO FOSS). No entanto, a atitude generalizada é a de que o equipamento pertence a quem foi entregue.

Com este projeto, o parque informático de uma escola explode, literalmente, em número de equipamentos. As escolas passam de ter de gerir parques informáticos de poucas centenas de computadores para milhares (no meu caso, passámos de cerca de 150 equipamentos para... 2700). Essas necessidades de gestão não são acompanhadas de reforço de meios técnicos, ou seja, é assegurada por professores e não por técnicos de informática.

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