Espaço dos projetos TIC em 3D, Fab@rts - O 3D nas mãos da Educação!, Laboratório de Criatividade Digital - Clube de Robótica AEVP e outros projetos digitais desenvolvidos no Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro.
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Blocks Zero
Passámos a última semana a testar e experimentar uma impressora 3D Blocks Zero. Pelo preço e tamanho, pareceu-nos ser uma boa solução para aumentar o parque de impressoras e ter um equipamento fácil de transportar para workshops e sessões de divulgação. Não que as impressoras da Beeverycreative não sejam também fáceis de transportar, mas não nos cabem na mala do carro... pelo menos em pé, e nós somos muito cuidadosos com o seu transporte.
Este teste foi possibilitado pela ANPRI, que nos cedeu temporariamente esta impressora. Calhou-nos o seu unboxing.
A Blocks Zero é uma impressora de kit, mas a que experimentámos vinha já montada. Felizmente. Sem querer desvalorizar as impressoras de kit, como professores o que queremos é trabalhar competências de modelação 3D e explorar projectos. Do nosso ponto de vista, o tempo gasto em assemblar impressoras de kit é tempo perdido, que atrasa a implementação de projetos pedágógicos. É um ponto de vista, sublinhamos. A montagem de uma impressora 3D, com a aprendizagem rigorosa e experimental que requer, pode também ser um excelente projeto.
E, logo a seguir, imprimir? Não, não é bem assim. A Blocks Zero é uma impressora cartesiana normal, sem o nível de integração e usabilidade a que estamos habituados na Beeverycreative. Não há um software especializado que simplifica o processo de impressão, ou perfis específicos de filamento. A impressão faz-se através de um cartão SD (também nos pareceu ser possível com ligação USB ao computador, mas suspeitámos que esta impressora não tinha modo de impressão autónomo e não quisemos empatar o nosso computador numa impressão), com ficheiros Gcode gerados pelo Cura. Não estando tão simplificado como o Beesoft, o Cura pode parecer intimidante a quem se inicia na impressão 3D, mas tem algum cuidado em simplificar o processo para os menos conhecedores como um modo simples. Os mais conhecedores podem gerir, testar e modificar todos os parâmetros no modo avançado.
Imprimir para a Blocks Zero requer configurar o Cura com as dimensões da impressora, carregar os perfis de filamento generalistas disponíveis na página da Blockstec, importar os ficheiros STL, e gravar o Gcode para o cartão de memória. Depois, tudo o resto é passado na impressora. Utilizámos o Cura 2.4.
Ao contrário das Bees a que estamos habituados, o controlo da Zero é feito na própria impressora. É uma vantagem, parece-nos, acelera um pouco o processo de iniciar o dia (ou o trabalho) de impressão. As informações e comandos são acessíveis pela combinação de display LCD e botão. Um interface que se revelou estranho para os nossos alunos, cuja tentação, mal vêem um ecrã, é tocar nele.
Carregar e descarregar filamento é um processo simples, basta dar essas ordens à impressora e colocar o filamento na entrada do extrusor. A Zero não tem um extrusor direto, usa o sistema bowden, o que significa que o filamento é empurrado a alguma distância para o hotend. O extrusor fica mais leve, o que nos pareceu ser bem aproveitado na rapidez de impressão, mas é algo apoquentador pensar o que poderá acontecer em caso de entupimento ou quebra do filamento após entrada no extrusor.
Inicialmente, o processo de carregamento pareceu-nos gastar demasiado filamento. Após o início da descarga, a impressora continuava a deitar filamento, e se não estivéssemos com atenção depressa ficaríamos com uma bola de plástico à volta do nozzle.. Contactámos a Blocks, e disseram-nos que a versão mais recente do firmware resolvia essas questões. Essa instalação obrigou-nos a reverter o Cura para uma versão anterior, a recomendada para atualização do firmware da Blocks Zero. Após atualização, verificámos que o processo de carregamento/descarregamento ficou optimizado, com menos filamento desperdiçado no carregamento, e um descarregamento totalmente automatizado.
Imprimir é um processo simples, basta selecionar o ficheiro gcode do modelo no interface da impressora. No entanto, aquele interface de botão giratório é capaz de complicar se tivermos mais do que dois ou três ficheiros no cartão SD.
Imprimindo apenas em resolução média, com os perfis genéricos de PLA da Blocks, a Zero deu-nos consistentemente bons resultados.
Mesmo nas peças que requerem muitos suportes, apesar da base dessas peças ter um mau acabamento. Isso tem mais a ver com os suportes em si do que com a impressora, claro. Aproveitámos e imprimimos alguns modelos criados em tablet no 3DC.io, que não tínhamos tempo de experimentar na escola. As nossas Bees estão com filas de impressão grandes, sempre com prioridade para os projetos dos alunos.
Teremos ficado convencidos pela Blocks Zero? Será uma boa alternativa à míriade de clones de Prusas que se encontra no mercado, com qualidade de construção e preço acessível, bem como às impressoras mais pensadas para utilizadores menos experientes? Talvez, se se for um maker ou se quiser ter a impressora em casa para imprimir pequenos objetos (ou grandes, divididos em partes). Num contexto educacional, notámos algumas questões que dificultam a adopção desta impressora. Ressalvando, claro, que a Zero foi pensada para o mercado dos fãs de impressoras 3D e não da educação.
Para impressora de baixo custo, a Blocks Zero pareceu-nos robusta, consistente na qualidade da impressão. Mas a sua usabilidade requer algum à-vontade com a tecnologia de impressão 3D, e uma curva de aprendizagem maior do que a que tivemos com as impressoras da Beeverycreative. O maior problema que tivemos foi com o nivelamento da mesa de impressão. Um processo simples nas Bees, aqui um pesadelo de parafusos que não conseguimos afinar com a precisão a que estamos habituados. De acordo com os responsáveis da Blocks, a mesa de impressão fornecida em duplicado com a impressora é resistente, garante aderência e não é difícil de retirar as impressões. Depois de uma primeira experiência de impressão em que a peça se descolou da mesa sem dificuldades, por si só (warping e má aderência da camada de base à mesa, mas ainda não tínhamos tentado calibrar o nivelamento), constatámos o oposto. As peças agarram à mesa, e retirá-las sem danificar a mesa é um desafio. Optámos pela solução de usar uma fita protetora, para evitar danos à mesa de impressão.
Sendo pequena e leve, a Zero é muito portátil, apesar de não ter no seu design elementos pensados para transporte. Notámos no design um elemento surpreendente. A electrónica da impressora está situada na sua parte de baixo, protegida da zona de impressão, mas completamente aberta. Não há uma base que enclausure e proteja estes componentes. Parece-nos uma péssima ideia, tendo em conta a nossa experiência em zonas de trabalho que incluem salas de aula, bibliotecas, gabinetes ou demonstrações em zonas expostas aos elementos. Não ficaríamos tranquilos com uma máquina cujos componentes podem ser colocados em risco num ambiente educacional. Podemos pensar em acumulações de pó, mas qualquer professor sabe que num ambiente com alunos o imprevisível acontece. Algum que esteja a beber água e seja descuidado, outro que mexa na impressora e seja demasiado curioso, abanões e embates, apesar da solidez da impressora, esta parte de baixo aberta pareceu-nos deixar-lhe uma enorme vulnerabilidade. Isto, dentro de um contexto educativo do ensino básico, note-se. Clubes de robótica, alguns dos quais trabalham com Prusas completamente desprovidas de carenagens, ou ambientes mais restritos não seriam problema.
Há também alguns elementos de usabilidade que nos fizeram deitar as mãos à cabeça, pela sua inusabilidade. Parece ridículo, mas foram necessárias várias tentativas para inserir o cartão SD na impressora. Demorou-nos a perceber que havia uma ranhura lateral na carenagem da impressora que servia como slot do cartão. Um simples SD escrito nessa zona resolveria isso. Ou, ainda mais simples, um guia de início rápido da impressora. Quando abrimos a caixa, contendo a impressora montada, encontramos um guia de montagem da impressora. Excelente, pensámos, se a desmontarmos já sabemos como é que a voltamos a montar. Nada de guias de início rápido, apenas uma referência ao site da Blocks, cuja página dedicada à Zero contém apenas algumas informações de configuração do Cura, perfis de filamento e pouco mais. Para saber como nivelar a mesa de impressão ou inserir filamento, tivemos de pesquisar na web e encontrar tutoriais vídeo sobre como o fazer na Blocks One, ou em Prusas genéricas. Faz falta à Zero um guia de referência rápido que explique as funções acessíveis no display da impressora, opções de conectividade e manutenção elementar. O pormenor mais absurdo desta desatenção à usabilidade está no sítio da ligação USB. No interior da impressora. Muito dentro da impressora.
Percebe-se o porquê disto, quem concebeu a Blocks Zero partiu do princípio que quem a utilizar já tem experiência prévia noutras impressoras, e já sabe como dar a volta a estas questões. Mas, no ambiente educativo em que desenvolvemos as atividades das TIC em 3D, quer as com alunos quer as de formação, sabemos que estes pormenores não são menores para os professores, e podem ser um fator de desmotivação. Imaginem que estão a meio de uma atividade, e tudo corre mal, porque precisam de nivelar a impressora, ou os vossos alunos não conseguem perceber o interface, houve entupimentos, entre outras coisas que podem correr mal (e aqui falamos por experiência própria). Se estas operações forem morosas, ou a curva de aprendizagem for muito elevada para os professores, o risco de desmotivação é enorme.
Isto leva-nos a refletir num passo essencial nesta tecnologia. O campo está muito pensado em função das necessidades dos makers, daqueles que gostam dos desafios inerentes à impressão 3D. Compreendemos esse fascínio, mas sentimos que para que esta tecnologia se desenvolva ela tem de ser simplificada ao nível de interfaces e usabilidade. Quando trabalhamos com professores, na divulgação do enorme potencial desta tecnologia, sentimos muito isso. Para que os professores a utilizem, têm de se sentir confortáveis com a tecnologia, têm de sentir que não é difícil, que não é coisa só para engenhocas e engenheiros. Esse passo, por cá, está a ser muito bem dado pela Beeverycreative, que colocou a tónica na usabilidade, qualidade e fiabilidade das suas impressoras. Algo que tem custos, elevados, mas que se diluem no tempo com a facilidade de utilização, o downtime mínimo das impressoras. Na educação, os custos medem-se em tempo, em ganho pedagógico para os alunos. Uma impressora bem concebida acelera a rapidez com que a utilizamos na sala de aula e concebemos atividades de impressão 3D, sabendo que podemos ter confiança a médio prazo, que as atividades previstas não serão interrompidas por uma descalibração ou outro problema.
Gostámos da Blocks Zero. Ficaria muito bem na biblioteca, para uso pessoal. Mas para uso educativo, é demasiado genérica, apesar de não ser das mais complexas. Não seria difícil de dominar por professores e alunos de áreas tecnológicas, mas os de outras áreas sentiriam dificuldades. O seu tamanho pequeno torna-a útil para transporte para formações e demonstrações, mas impede impressões 3D mais ambiciosas. O que nos deixou desiludidos foi a pouca atenção dada à sua usabilidade, percebendo-se que foi concebida para um público que já domina esta tecnologia. O baixo preço é um fator convidativo, e resta ficar a conhecer a fiabilidade da máquina a médio prazo, algo que com uns dias de teste é impossível de determinar.
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