Hello World? |
Estava eu afadigado a montar a primeira versão do robot Anprino, quando um dos elementos da ESE de Setúbal entra na sala da escola básica Vasco da Gama onde o Luís Dourado finalizava uma formação, enquanto decorria o evento de encerramento do Projecto de Introdução à Programação no 1CEB. Segurando a caixa de um mbot, olha para o caos de porcas, parafusos e peças, comentando onde é que vocês compraram isso?
Não comprámos. Concebemos, projectámos, construímos. Este projecto, apresentando ontem no evento, visa resolver problemáticas de acesso à robótica educativa. Não faltam no mercado robots educativos de diferente níveis de complexidade, mas o problema que se coloca às escolas é de financiamento. O potencial da robótica educativa é enorme, mas adquirir mais do que um punhado de equipamento requer investimentos muito fortes. Os projectos bem sucedidos que, por cá, têm mostrado o que de melhor se pode fazer colocando estas tecnologias nas mãos das crianças, são trabalhos de anos a conseguir mais equipamentos. São, também, excepções num imenso panorama de escolas que gostaria de experimentar estes caminhos, mas não têm condições financeiras para o fazer.
Anprino 1 na mesa da sessão de partilha de boas práticas da sessão de encerramento do primeiro ano do projecto Introdução à Programação no 1CEB. |
O desafio partiu da Fernanda Ledesma, presidente da Associação Nacional de Professores de Informática. Envolve muito mais do que um simples robot. No evento de ontem foram reveladas todas as peças de um puzzle interessante, que sob o lema nenhum aluno pode ser deixado para trás, aposta na disseminação da robótica educativa a baixo custo.
Três vertentes de actuação para estimular a robótica aplicada à educação básica. |
Anprino 1. Agora, precisa de roupagens... |
O kit Robot Anprino baseia-se em arduino para a electrónica e programação, e modelação e impressão 3D para as peças. Em estudo, a integração com linguagens de programação por blocos, para simplificar e integrar em actividades de introdução à programação. A modelação 3D contempla a modularidade, para que os elementos sejam intercambiáveis e permitam múltiplas combinações. Neste primeiro Anprino, a escolha recaiu sobre um robot bípede, mas outras combinações depressa se seguirão.
Os kits incluirão instruções de montagem, ficheiros STL para impressão 3D das peças, e metodologias de trabalho. Escolas que disponham de impressoras 3D (são cada vez mais) só precisam de adquirir placas arduino e outros componentes necessários aos robots anprino (motores com caixa de velocidade, servos, sensores). Materiais que são de aquisição fácil e de baixo custo, especialmente se comparados com os kits de robótica mais convencionais da Lego. Tudo se interliga com porcas e parafusos. Mas há mais. O convite à comunidade não se fica pela utilização, e o desafio está aberto a todos os que queiram contribuir. Remixagens, variantes, novos cenários. Uma vez que a modelação 3D está a ser feita em Tinkercad, até a base física dos Anprinos pode ser reinventada.
Equipe Anprino: Luís Dourado, Artur Coelho, e na foto falta a Fernanda Ledesma, presidente da ANPRI. |
O Anprino 1, acabadinho de ser montado, nas mãos de dois dos seus criadores: Luís Dourado, formador da ANPRI e professor na Escola Secundária Augusto Cabrita no Barreiro, responsável pela concepção geral e programação do robot, e eu, humanóide por detrás das TIC em 3D, professor no Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro, responsável pela modelação e impressão 3D. O aspecto final deste primeiro Anprino não abona muito em relação às minhas capacidades de design criativo, mas lá chegaremos. Agora o foco esteve nas entranhas, na modularidade de peças que encaixam todas com ajuda de muitas porcas e parafusos. Podia-se pensar em modelos mais integrados, mas o grande objectivo deste projecto é o ser modular, permitindo múltiplas combinações.
Anprino, a começar a mexer... |
Nesta primeira versão, descobrimos que fomos excessivamente ambiciosos. Há uma razão para que a maior parte dos projectos de robótica sejam com veículos, simplifica o equilíbrio da máquina. Um robot bípede... digamos que é complicado aguentar-se em pé. Mas funciona, embora precise de muitos afinamentos. Afinal, isto é um work in progress, desafiante, que mistura design com programação, electrónica e educação.
O desafio mais próximo, agora, é preparar uma segunda versão, mais convencional, para apresentar na Lisbon Maker Faire. O grande desafio será pegar naqueles olhares sorridentes, encantados, dos professores de informática e responsáveis por projectos que viram ontem o Anprino no evento de encerramento, e desafiá-los a imprimir em 3D, montar e programar os seus Anprinos. Para que os seus alunos não sejam deixados para trás.
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